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segunda-feira, 27 de setembro de 2010

A história do perfume da antiguidade até 1900 PART 1
setembro 5, 2008 às 11:30 pm · Arquivado em Familia Raiz Cultura and tagged: , , , , , , ,

A busca pelo divino marca a história do homem. Os mais antigos cheiros conhecidos são os da fumaça que exalava da queima de madeiras, especiarias, ervas e incensos. Essa prática explica a origem latina da palavra perfume: per (através) e fumum (fumaça), através da fumaça. A origem do perfume se deu a partir de 3.000 a.C., no esplendor da civilização egípcia. Os egípcios eram politeístas, ou seja, adoravam vários deuses, e os homenageavam em ricos rituais.
Acreditavam que seus pedidos e orações chegariam mais rápido aos deuses se viajassem nas nuvens de fumaça aromática que subiam aos céus. Acreditavam na reencarnação, e reservavam as fragrâncias também aos mortos. Grande quantidade de aromas acompanhava a passagem desta para outra vida, ao encontro com os deuses, e o corpo do morto devia ser conservado tão inalterado – e perfumado – quanto possível. Mirra, musgo de carvalho, resina de pinho, entre outros ingredientes com propriedades anti-microbianas, eram utilizados no ritual de mumificação, cujos incríveis resultados são admirados até hoje.

Abalastros, 3100 a 1785 a.C
Frascos usados para preparação de ungüentos
Grécia
A mitologia ilustra a importância do perfume na cultura grega, e a história confirma esse fato. Por volta de 800 a.C., as cidades de Atenas e Corinto já exportavam óleos de flores e plantas maceradas: rosa, lírio, íris, sálvia, tomilho, manjerona, menta e anis. Desde então, os aromas eram populares entre os gregos, que cultivavam a arte de utilizar óleos perfumados. Usados pelos atletas e amados pelos poetas, esses preparados tornavam ainda mais atraentes as mulheres de Atenas. Os gregos apreciavam incensos e fórmulas aromáticas, e acreditavam atrair a atenção dos deuses ao usá-los. Eles usavam perfumes até mesmo na comida: pétalas de rosas moídas eram ingredientes de receitas sofisticadas e o vinho era aromatizado com mirra, essências de flores e mel perfumado. Uma lenda cita o buquê favorito de Baco, deus do vinho: violetas, rosas e jacintos adicionados à bebida.
Babilônia
Por volta de 650 a.C a cidade da Babilônia, na Mesopotâmia, tornou-se o centro comercial de especiarias e perfumes da época. Conquistado dois séculos mais tarde por Alexandre, o grande, rei dos persas, o império caldeu tornou-se parte da civilização helênica. A influência persa na vida grega incentivou a apreciação de plantas exóticas e o uso de perfumes e incensos. Alexandre entregou sementes e mudas de plantas da Pérsia ao seu professor em Atenas, Teofrasto, que criou um jardim botânico e foi autor do primeiro tratado sobre cheiros. Esse livro detalhava receitas de preparados aromáticos e perfumes, descrevendo prazos de validade e indicando usos terapêuticos. O texto diz que os perfumes deviam ser protegidos do sol, pois a luz e o calor alteravam seu odor. Essa lição é válida até hoje. Após sua morte aos 33 anos, Alexandre foi cremado em uma pira carregada de olíbano e mirra. Graças à riqueza de alguns manuscritos, resgatados pelo historiador Heródoto, conhecemos as primeiras experiências na extração de cheiros de pétalas e folhas, e de seus usos e funções no preparo de ungüentos, loções e perfumes.
Cleópatra
Cleópatra, última rainha do Egito, representa o símbolo da sedução com seus rituais perfumados. Além de conquistar o coração do general romano Marco Antônio, conseguiu dele a promessa de uma aliança com Roma. Ao que parece, ela era muito mais atraente do que propriamente bonita, e sabia, acima de tudo, como perfumar-se. Untava-se com essências aromáticas dos pés à cabeça, criava em torno de si uma aura perfumada e recebia Marco Antônio em uma cama repleta de pétalas de rosas. Seus requintes eram incríveis: ela impregnava de odor de rosas até as velas de seu barco, e viajou ao encontro do amante inteiramente untada de óleos perfumados, como uma deusa em forma humana, deslizando sobre as águas. Deixava-se admirar recostada no trono de seu barco, que era envolto em nuvens de incenso. Em sua célebre visita a Roma, a rainha do Egito deixou um rastro de rosas por onde passou, e em sua última noite no mundo dos mortais, antes de envenenar-se, banhou-se e perfumou-se da cabeça aos pés com as mais finas fragrâncias. Quando os soldados romanos a encontraram morta em seus aposentos, ainda puderam sentir seu perfume inebriante, feito sob encomenda para seu status real.

Cleópatra untava-se de essências aromáticas dos pés à cabeça.
Império Romano
O vasto império conquistado pelos romanos contribuiu muito para a expansão da perfumaria, pois eles consumiam aromas de maneira intensa. O comércio de matérias primas perfumadas foi estimulado pela criação de rotas comerciais para a Arábia, Índia e China. No período imperial, o gosto dos romanos por incensos e perfumes passou dos limites imagináveis, e criou um desequilíbrio na balança de pagamentos do império. Aproximadamente 500 toneladas de mirra e 250 toneladas de olíbano chegavam a Roma pelo mar. Até os cavalos eram perfumados! No século III, Roma se tornou a capital mundial do banho, luxuoso ritual jamais visto em qualquer outra cultura. O banho incluía poções aromáticas variadas. Os cidadãos mais ricos tinham até as solas dos pés perfumadas por escravos. Na cidade podiam ser encontradas mais de 100 casas de banho públicas e privadas, freqüentadas por todas as classes sociais.
Mercadores de cultura
Os árabes foram muito celebrados por suas maravilhosas descobertas, como a bússola e a álgebra. Eles ofereceram à humanidade o primeiro alambique, graças ao alquimista Avicenna, que criou a serpentina de resfriamento. Ele descobriu o método da destilação e preparou a primeira água de rosas do mundo, isolando o perfume das pétalas em forma de óleo (o attar, produzido na Síria). Esse conhecimento, que foi sendo transferido de geração em geração, representou um grande passo na história da perfumaria. Seu apogeu foi na Idade Média, quando os árabes desenvolveram técnicas de destilação de plantas em larga escala. Logo depois, os chineses conseguiram extrair álcool etílico do vinho. O aperfeiçoamento da destilação aconteceu na Itália em 1320, e permitiu a produção regular de álcool a partir da Renascença. Os Cruzados difundiram pelo ocidente as fragrâncias originárias do mundo árabe, resgatando sua influência nos hábitos da população. Eles voltavam das batalhas com preciosidades exóticas na bagagem: especiarias, ungüentos perfumados e essências variadas.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O PERFUME
Uma história com milénios
Desde os primórdios da humanidade que a procura de aromas diferentes e agradáveis, e a consequente utilização de essências de plantas, faz parte da história da civilização.
Prelúdios
Pensa-se que a arte da perfumaria se terá iniciado ainda na Pré-História, quando o homem primitivo aprendeu a fazer o fogo e descobriu que certas plantas libertavam fragrâncias agradáveis quando queimadas. Os primeiros perfumes terão pois surgido sob a forma de fumo, o que é aliás confirmado pelo próprio étimo "Perfume", que deriva do latim "Per fumum" ou "pro fumum", significando "através do fumo".
A queima de plantas raras e resinas aromáticas estava em geral associada a cerimónias religiosas, sobretudo aos sacrifícios rituais de animais, em que serviria para disfarçar os odores incomodativos do animal morto. Com este objectivo eram utilizados o sândalo, a casca de canela, as raízes de cálamo, bem como substâncias resinosas como mirra, incenso, benjoim e cedro do Líbano.
Na civilização mesopotâmica, o acto de perfumar era tido como um ritual de purificação. Por esse motivo, os homens tinham a obrigação de oferecer perfumes às mulheres durante toda a vida.
Os Hebreus também utilizavam o perfume na vida quotidiana e no culto. Uma das suas fórmulas está registada na Bíblia, no livro do Êxodo, capítulo 30. A composição utilizava quatro ingredientes naturais, muito empregados nos dias de hoje, mas de forma mais refinada: mirra, cinamono, junco odorífero, cássia e óleo de cálamo aromático.
Requintes
Os Egípcios foram o primeiro povo a fazer uma utilização sistemática do perfume. O seu fabrico era considerado uma graça de Deus, sendo por isso confiado aos sacerdotes, que utilizavam os perfumes diariamente no culto ao deus-sol.Mas começa também a generalizar-se a utilização pessoal do perfume, tendo para isso os Egípcios criado um original sistema, pequenas caixas que se usavam atadas na cabeça e que continham uma fragrância que se dissolvia lentamente perfumando o rosto. Tinha também a função de afastar os insectos.A rainha Cleópatra, ela própria autora de um tratado de cosmética infelizmente perdido, untava as suas mãos com óleo de rosas, açafrão e violetas - o kiafi - e perfumava os pés com uma loção feita à base de extractos de amêndoa, mel, canela, flor de laranjeira e alfena.Até os mortos, durante o processo de embalsamamento, eram ungidos com essas misturas. Quando o túmulo do rei Tutankámon foi aberto, encontraram-se no seu interior maravilhosos vasos de alabastro que conservavam ainda a essência perfumada que havia sido colocada neles há cerca de 5 mil anos.
A refinada civilização grega importava perfumes de diferentes partes do mundo, sendo os mais apreciados e caros os oriundos do Egipto. Mas também criaram uma técnica própria de perfumaria, chamada maceração, em que o óleo vegetal ou a gordura animal eram deixados durante algumas semanas em repouso juntamente com flores, para lhe absorver os óleos essenciais.Há 2400 anos, certos escritos gregos recomendavam hortelã-pimenta para perfumar braços e axilas, canela para o peito, óleo de amêndoa para mãos e pés, e extracto de manjerona para o cabelo e as sobrancelhas.O uso do perfume foi levado a um tal extremo pelos jovens que o legislador Sólon chegou a proibir a venda de óleos fragrantes.Tal como os gregos, os Romanos eram grandes apreciadores de perfume, usando-o nas mais diversas situações. Como resultado das suas conquistas militares, os Romanos foram assimilando não só novos territórios, mas também novas fragrâncias, procedentes das suas campanhas em terras distantes e exóticas, aromas desconhecidos até então, como a glicínia, a baunilha, o lilás ou o cravo. Também adoptaram o costume grego de preparar óleos perfumados à base de limão, tangerinas e laranjas.Esta paixão pelo perfume esteve na origem do aparecimento do poderoso grémio dos perfumistas, os famosos e influentes ungüentarii, que fabricavam três tipos de unguentos: sólidos, cujo aroma contava com um único ingrediente de cada vez, como a amêndoa ou o marmelo; os líquidos, elaborados com flores, especiarias e resinas trituradas, num suporte oleoso; e perfumes em pó, feitos com pétalas de flores que depois se pulverizava e aos quais se juntavam certas especiarias.Os nobres romanos possuíam inclusivamente escravos para os massajarem e untarem com essências perfumadas e era costume os soldados perfumarem-se antes de entrar em combate.Conta-se que Nero, no século I d. C., na organização de uma festa, gastou mais de 150 mil euros, em valores actuais, em essências para si mesmo e para os convidados. E, no enterro de sua mulher Pompeia, gastou o perfume que os perfumistas árabes eram capazes de produzir num ano. Chegou ao extremo de perfumar até as suas mulas.
Também a tradição cristã está na sua origem associada ao perfume. Lembremos que uma das oferendas que os reis magos trouxeram ao menino Jesus foi o incenso.
Durante a Alta Idade Média, a utilização do perfume vai cair em desuso, não só pela desorganização económica que então se viveu, mas também pelo estilo de vida mais austero da sociedade ocidental.(Continua no próximo número).